Monday, December 26, 2005




talvez. mais um que fica incostante a meio do rio sem saber para que margem se virar. e não se mexe, com medo que o próximo passo o afogue em decepção. à esquerda tudo o que quer. à direita tudo o que precisa. vira-se à vez e imagina as saídas.
primeiro à esquerda.
um futuro brilhante, tudo o que poderia desejar. é apenas mais um com que a vida anda a brincar. podemos vê-los por aí, a correr de um lado para o outro para se esquecerem de pensar. sorriem e o seu olhar brilhante diz a quem os vê passar: tenho tudo, sou feliz. as pessoas olham-nos, invejam-nos e pensam "se ele me pudesse dar um pouco da sua carteira tão cheia, da sua mulher tão bonita, dos seus filhos tão perfeitos...". e é tudo o que vêem... aquele brilho que lhes ofusca de tal modo a visão que não reparam que vem das lágrimas que se escondem por detrás. é a vida mais ingrata. têm tudo. tanto tanto que não têm nada. um nada que se apodera deles quando inspiram e não para nos pulmões, mas no coração. o que fazer naqueles dias em que tudo não satisfaz? e o desespero de desesperar por se ter tudo? sim, talvez quem tem tudo tenha tudo a perder. e mesmo assim, talvez falte alguma coisa que tira o sentido a tudo. talvez.
depois vira-se à direita.
olha para a sua roupa suja e rasgada, para o frio que entra pela porta estragada e pensa como poderia ter sido se tivesse dinheiro para acabar o curso. mas já não se sente tão vazio. tem todas as pequenas coisas que lhe alimentam o coração. alguém que ama. que o ama. e sonha. sonha com aquela casa enorme que tem aquele jardim onde os seus filhos brincam. e talvez seja mais feliz por sonhá-la do que por viver nela. talvez.

isto não é uma escolha. de longe é uma lição de moral porque as lições só são boas quando as queremos para nós. talvez se tivessemos que escolher o futuro fosse o primeiro que queriamos. e depois pensávamos: eu seria feliz assim, se tivesse tudo aquilo. e percebemos. olhamos à nossa volta e temos a lareira acesa, alguém que nos ama, a roupa lavada. depois lembramo-nos daquele dia antes de ontem em que tudo correu bem e acabámos a noite em lágrimas que não percebemos de onde vêm.

talvez quisessem uma resposta. um caminho correcto. é o que todos queremos afinal... que alguém nos ensine a escolher porque a escolha pesa demais. mas não há um manual de vida. não há uma resposta certa. depende de mim, de vocês...

mas vão virando umas vezes à esquerda, e outras à direita.
e lembrem-se só que tudo o que queremos, não vale nada se for inútil para o coração.

"make sure the fortune that you seek, is the fortune that you need"

Saturday, December 24, 2005


Mais um ano, menos um ano. Sinto necessidade de o marcar no papel para a velhice não me trocar as datas. Tanto que mudou, tanto que gostava que tivesse mudado. Sento-me no mesmo local, tenho a mesma noite a espreitar pela janela, a mesma ânsia de cantar. Definiram-se objectivos, cresceu-se mais um bocadinho e há um medo imenso de fracasso apesar de o sonho ser bem mais alto. O coração continua a bater mas já sabe bater pelo que importa. Só tem medo de bater depressa de mais. E são tantas as memórias que se juntam aos outros pedaços do corpo. Memórias em patins, num gelo falso que aquece o coração. Memórias que tocam ao som do Bryan Adams num grito de liberdade que eleva para longe. Memórias que se espraiam numa terra Brasileira com o sabor de uma amizade que se adivinha eterna. Memórias brilhantes, em maresias que aquecem a alma no verão e lhe servem de esconderijo no inverno. Memórias de noites em praias frias, memórias de liberdade e sabores novos. Memórias de um beijo, solto na incerteza do abandono por um navegante que há muito fugiu da costa sem nunca querer abarcar. Memórias que se juntam num gofre de framboesa e viajam de coração em coração, à descoberta de segredos e confidências que se tornam maiores e nos unem em laços daqueles que levam vidas a desatar. Memórias de esforço, de determinação, memórias de noites e noites a mal dormir ou a dormir demasiado bem. Memórias das nossas noites. Memórias do culminar de todas as memórias num sonho que a Mafalda Veiga nos dá. Memórias daquele sentir, daquele tremer, daquele olhar que diz tudo e não queremos largar. Memórias de Porto Covo, dos luares que preenche no nosso coração por nos ensinar o valor da laranja da falésia. Memórias que se escondem em fotografias roubadas no silêncio da felicidade, memórias de êxtase e divertimento. Memórias de tendas, memórias de aventura e de companhias tão especiais. Memórias rebeldes que abalam em combóios e voltam ao escurecer, memórias de palavras que doiem e memórias das que trazem dor por não serem ditas. Memórias de sorrisos, memórias de abraços, memórias de guitarras que seduzem outras memórias. Memórias de ler, memórias de sentir, memórias de viver e de querer existir. Memórias de mãos entrelaçadas, de almas enleadas, memórias que ficam e nunca mudarão. Porque há memórias que se repetem apesar de nada se repetir. E há memórias que nunca estarão completas porque as vamos vivendo um dia de cada vez.

E foi mais um ano, mais um ano em que fui feliz porque continuo aqui. E isso... é tudo o que posso pedir para continuar com as minhas memórias.

Sunday, December 11, 2005


A vida acorda todas as manhãs dum sono que não dormiu. É falsa. Tem muitas caras e mostra-se diferente a cada um que a acompanha. Ninguém sabe exactamente por onde anda, e quem a viu uma vez nunca mais a vê com aquela máscara. Muda-se constantemente para se proteger, a definição causa-lhe horrores. Tem medo de mostrar a sua verdadeira faceta, é fraca. E por isso tenta agradar a todos, criando ilusões e fingindo constantemente. Tudo em vão. Só para que alguém goste dela, porque também ela quer alguém de quem gostar. Ninguém a sabe definir, ninguém a sabe viver.
Mas a vida tem segredos terríveis. Escapa-se em quartos escuros e abusa de quem a teme e depois chora e são dias e dias de chuva.
Há quem não consiga ver para além daqui. Não dá mais oportunidades à vida e chama-lhe muitos nomes. E para esses a vida é triste e amarga e chamam-lhe injusta sem perceber que como nós, também ela faz sofrer sem intenção. Esses são incapazes de perdoar e gostam de se chamar infelizes.
Mas a vida também tem segredos maravilhosos. Esconde-os em todo o lado e apenas os sente quem os quer encontrar. Espreguiça-se no escurecer de quem se sente perdido, sopra na maresia que uma gaivota faz voar, canta por dunas espraiadas num carinho sentido, enrola-se numa calma que nos ensina a lutar. Só se mostra a quem ainda tem esperança. Só se mostra a quem ainda sabe sonhar. E quem a sente perde-se. Perde as palavras, perde as mágoas, perde a solidão. E não se quer mais encontrar. E gosta apenas de ficar ali, perdida, esquecida de sofrer. Deixa cair os muros e o coração respira sem medo, solta a mágoa em segredo e uma esperança de vencer. E sente um abraço mais fundo, um amor maior que o mundo, uma alegria de viver.
E aqui a vida é bonita e quem a conhece sabe ser feliz.
Também nós podemos ser feios e bonitos. Temos dias, como a vida. Mas quando somos feios há quem ainda acredite em nós. E podemos voltar a ser bonitos. Se tentarmos, se soubermos onde procurar. Os segredos estão à nossa volta, todos, todos os dias. só precisamos de escolher os que queremos desvendar. Só precisamos de decidir onde queremos chegar.

Tu és o melhor segredo que encontrei, a melhor praia onde já sonhei,
és tudo o que não sei explicar, és o que mais quero guardar.
és o calor que amo por dentro, és tudo o que há num sentimento.
e gosto de ti assim.
apenas porque bates em mim.

hoje sou bonita.
porque fazes parte de mim.

Thursday, December 08, 2005

Como agradar a uma mulher?

Acariciar, ..massajar, ..cantar, ..apoiar, ..rir, ..sorrir, ..consolar, ..abraçar, ..excitar, ..proteger, ..seduzir, .. perdoar, .. sacrificar-se, ..compreender, .. respeitar, .. conquistar, .. defender, ..escrever para ela, ..mimar, .. perfumar-se, .. barbear-se, .. elogiar, .. fazer uma surpresa, ..acreditar nela, ..ajudá-la, .. presenteá-la, .. escutá-la, .. acalmá-la, .. morrer por ela, ..sonhar com ela, .. agradecer-lhe, .. dançar com ela, .. olhá-la nos olhos, .. idolatrá-la, .. amá-la.

como é que não haviamos de estar sozinhas? :)



eras mais que uma pessoa, um herói
mais que uma mão, a confiança...
mais que um ombro, o conforto...
mais que um abraço, a segurança...

eras mais que um tocar, o sentir...
mais que uma imagem, uma visão...
mais que uma descoberta, um tesouro...
mais que um exemplo, a perfeição...

eras mais que uma cor, o arco íris...
mais que uma flor, o jardim...
mais que a lua, a noite...
eras mais que tudo para mim.

eras.


A paisagem amarelada dançava com os caminhantes na rua. Eram muitos e tinham um caminhar subtil, cheios de si mesmos e vazios do mundo, ou cheios do mundo e vazios de si.
Os passos apressados traçavam a insegurança de cada escolha e perdiam-se entre olhares, consciêntes que ninguém verdadeiramente sabia para onde ir. Cruzavam caminhos e soltavam suspiros, na esperança de um outro alguém que lhes segurasse a mão e lhes indicasse a saída. E era uma rua negra e uma calçada triste, cheia de uma aragem cíclica de um desespero contaminável.
Por vezes paravam. Sentavam-se ao lado do medo e choravam, suplicando por uma razão de viver. O medo ia-se embora com medo deles, mas eles temiam a ausência do medo. Porque o medo está sempre perto daquilo que mais queremos. Mas havia uma fronteira intransponível entre eles e o que eles queriam. Queriam deixar de ser simples caminhantes.
Mas noutra rua ao lado viviam outros.
Tinham um passo certo e calmo, olhavam em frente e sorriam às paredes, cúmplices de uma quimera invisível à maioria. Não sabiam porque caminhavam nem o que os fazia caminhar, mas isso não os absorvia e era essa a diferença. Conheciam o amor. E o amor só se deixa conhecer quando não se querem aproveitar dele. Não gosta de ser usado para depois ser substituído, não quer dar-se aos que querem amar mais desesperadamente porque esses são também os que mais odeiam, no fim. O amor só gosta daqueles que já amam, que já o amam, daqueles que quando olham à sua volta sabem amar mesmo o que há de mais feio. Apenas porque existe, e existir é o suficiente para se amar. Estes caminhantes gostavam da sua rua e era isso que a fazia bonita. Estes caminhantes sabiam o que queriam.
Queriam ser simples caminhantes.