Thursday, December 08, 2005


A paisagem amarelada dançava com os caminhantes na rua. Eram muitos e tinham um caminhar subtil, cheios de si mesmos e vazios do mundo, ou cheios do mundo e vazios de si.
Os passos apressados traçavam a insegurança de cada escolha e perdiam-se entre olhares, consciêntes que ninguém verdadeiramente sabia para onde ir. Cruzavam caminhos e soltavam suspiros, na esperança de um outro alguém que lhes segurasse a mão e lhes indicasse a saída. E era uma rua negra e uma calçada triste, cheia de uma aragem cíclica de um desespero contaminável.
Por vezes paravam. Sentavam-se ao lado do medo e choravam, suplicando por uma razão de viver. O medo ia-se embora com medo deles, mas eles temiam a ausência do medo. Porque o medo está sempre perto daquilo que mais queremos. Mas havia uma fronteira intransponível entre eles e o que eles queriam. Queriam deixar de ser simples caminhantes.
Mas noutra rua ao lado viviam outros.
Tinham um passo certo e calmo, olhavam em frente e sorriam às paredes, cúmplices de uma quimera invisível à maioria. Não sabiam porque caminhavam nem o que os fazia caminhar, mas isso não os absorvia e era essa a diferença. Conheciam o amor. E o amor só se deixa conhecer quando não se querem aproveitar dele. Não gosta de ser usado para depois ser substituído, não quer dar-se aos que querem amar mais desesperadamente porque esses são também os que mais odeiam, no fim. O amor só gosta daqueles que já amam, que já o amam, daqueles que quando olham à sua volta sabem amar mesmo o que há de mais feio. Apenas porque existe, e existir é o suficiente para se amar. Estes caminhantes gostavam da sua rua e era isso que a fazia bonita. Estes caminhantes sabiam o que queriam.
Queriam ser simples caminhantes.

3 comments:

Anonymous said...

Resta saber apenas se é possível amar alguém de forma controlada...
Ze*

Anonymous said...

está muito bem, joana..muito bem mesmo..adoro o que escreves, sabias?e adoro-te a ti:)*

R. said...

o caeiro ta-te a fazer muito simplista, meu amor :P

(:*

e eu...que quero apenas amar? nao posso ser simplesmente amante e amada?