Wednesday, May 03, 2006



tenho a alma turva e um sonho a esvoaçar pelo café escaldante. a colher dá voltas contra o sentido do tempo para que este não queime. tenho cócegas no destino. daquelas que riem tanto que chorar nem parece pior. não sei onde me vão atacar depois. não sei quando vão parar. e eu gosto de cócegas quando não estou cansada. mas agora, neste momentinho, esqueci-me de me mexer. e as cócegas cansam-me mais cada vez que penso que as tenho de enfrentar.mas o destino foge sempre no esvoaçar do café. e quando o café arrefece e o destino não tem por onde fugir, não presta.

perco o rumo. vejo o barco no fundo da chávena mas a colher não me deixa aportar. talvez esteja com cócegas, também. e não consigo perder um rumo em que o mapa se tornou parte de mim, do que quero ser. mudaram as estradas e não me avisaram. só ao destino. aquele que esvoaça no morrer do café. terei que o ver, saber encontrá-lo quando ele não me esperar. talvez traí-lo, como tantas vezes já me traiu. e fazer-lhe umas cócegas para que brinque comigo e se entrelace nas minhas mãos, que anseiam um entrelaçar. e gostará tanto deste brincar que se vai perder de riso e de choro e perceber como preciso de esvoaçar no café para poder brincar para sempre.

acho que vou despir a alma e lavá-la com água fria. talvez um pouquinho de neoblanc gentil. preciso de fechar os olhos e recomeçar. porque está um café na minha mesa que tem que vir para dentro de mim. para que os sonhos esvoacem cá dentro e possa chegar ao porto do fundo da chávena...