Sunday, September 25, 2005

friends will be friends... right 'til the end

amigos para siempre...

Num dia chuvoso, uma alma intermitente. uma alma que se acende e se apaga consoante o sonho que vem de dentro. e uma saudade. saudade do que temos medo de reviver, por se afastar cada vez mais de nós e ficar mais perto da saudade. e fujo de mim. fujo de mim para ficar mais perto de ti, de todos os tis. mas não vos encontro.
sou então uma sombra sozinha, que o espelho não consegue ver. e torno-me pequena e cada vez maior, porque só em criança percebo a plenitude. enquanto fico mais pequena vejo regressar a mim tantas qualidades que o mundo me roubou. porque o nosso mundo tira-nos a pureza, desensina-nos que os nadas são tudo e quem quer ter tudo não tem nada. não espero nada de ninguém e ninguém espera nada de mim.. e sou feliz. e sou feliz porque sim.
depois cresço. cresço e fico cada vez mais pequena. e tento voltar para mim. corro, bato à porta, mas não me deixam entrar. e tento conhecer-me para me enganar. mas mal me reconheço. sou um conjunto de rugas que lutam para aparecer numa alma que não quer crescer. e é sempre o mais difícil. conhecermo-nos. toda a vida procuramos o que não temos, e depois já não sabemos se somos o que somos ou o que queremos ser.

mas consigo espreitar pelo fundo do olhar que ainda se mantém sincero num mundo sem sinceridade. e vejo-vos... lá dentro, quentinhos e aconchegados pelo cobertor que fiz para vocês ou que vocês fizeram para mim, já nem sei. e a alma deixa de estar intermitente e ilumina-se de vez. a porta abre-se. consigo entrar. e procuro mesmo assim conhecer-me...

demorarei muitas vidas... eu sei. mas também sei que enquanto não me souber pôr em pé, vai haver sempre alguém que não me vai deixar cair. e agradeço-vos por isso. e agradeço-vos por tudo.

obrigada, meus amigos :)

Wednesday, September 14, 2005


três meses, num furacão. um furacão que arrancou as memórias chuvosas e logo as pintou com um raio de sol. primeiro tímido. aqui e ali. mas foi entrando, mais confiante instalando-se a pouco e pouco no mais fundo de mim. começou por me escurecer a pele que já estava nua e fria da ausência dos teus desenhos, ressequida pela falta das tuas impressões digitais. depois penetrou mais fundo, o pequenino raio de sol. e trouxe-me muitas fins de tarde à beira-mar, ora respiradas devagarinho ora gritadas com a força da liberdade.
e trouxe-me também muitos casaquinhos para o coração, que pouco a pouco deixou de ter frio. e toda eu já era luz, sem cantos sombrios, sem lágrimas escurecidas pelo rímel, ou pela solidão, que é quase a mesma coisa. e trouxe-me também muitas noites sob as estrelas, entre pactos de amizade eterna e amanheceres estafantes depois de noites felizes sem dormir. porque quando estamos felizes, não queremos dormir. e o raiozinho instalou-se assim em mim, e eu sentia-o espreguiçar-se num gelado da emanha e a abraçar-me na música que eu trauteava.
mas o que é bom não dura sempre, e eu sabia-o. e o pequeno raio cada vez dava menos sinais. a pele voltou a esbranquiçar-se e a liberdade sufoca a cada minuto. acho que ele já está a adormecer, a ganhar forças para voltar brilhante no próximo verão.

e eu cá fico. triste. com frio. em aulas. e sem o meu raio de sol.

[help meeeeeeeee!]

Tuesday, September 13, 2005


...
- eu já não gosto de ti como dantes e... estas chateada?
- é melhor ires embora...
- eu não te queria magoar...
- vai!
- só quero que saibas que te vou amar para sempre...
- já!!



aparecem as letras no ecrã. produtor, realizador. e o filme começa a andar para trás. o príncipe dança com a bela, e o mordomo que já não é uma vela observa radiante, em conjunto com o empregado que era um relógio e com a mulher que era uma chávena. dançam juntinhos e depois cada vez mais afastados até entrarem na varanda. a rosa que se encontra dentro do frasquinho brilha intensamente, num brilho apaixonadamente vermelho. mas o príncipe é subitamente enfeitado por uma luz. uma luz negra. começam a crescer-lhe pêlos pelo corpo todo e os defeitos acentuam-se com cada batida de coração. a cabeça não pára de crescer e o cabelo aloirado torna-se numa juba assustadora. crescem garras nas mãos delicadas e a roupa rasga-se com o ódio crescente. o príncipe já não é um príncipe, é um monstro. e a rosa morre no chão. desfeita. esquecida.

Monday, September 05, 2005

tenho um mar dentro de mim.
não um simples mar. não apenas uma manifestação calma ou enfurecida dos sentimentos em mim. não, tenho a sua essência. e cada dia, cada momento, o mar revela-se, ou revolta-se e eu revelo-me com ele, numa aparente repetição de sensações que jamais poderão ser repetidas.
a repetição não existe, é uma ilusão. tal como a imutabilidade, como o conhecimento. porque nada se repete, tudo muda.
e eu bem que olhei para a nossa fotografia, em busca de um instante que se eternizasse. mas até no meu pensamento o teu rosto apareceu desfocado, o mesmo que um dia eu soube desenhar ao pormenor. mas isso é outra história, que já não sei contar.
tudo muda, dizia eu. olhamos o mundo e fechamos os olhos. abrimo-los outra vez e já não vemos o mesmo mundo. caiu uma folhinha aqui, menos um velho ali, mais duas crianças acolá. talvez o nosso mundo pareça igual, mas esquecemo-nos de todos os outros mundos que desmoronaram de alegria ou de tristeza. e nós? e o nosso mar? continuamos a navegar por entre as nossas ondas, calmamente? não. dizemos que somos, dizemos que amamos. passam 3 marés, já não sabemos quem somos, já não amamos. adoramos morangos, não gostamos de kiwi. o morango cansa e o kiwi é subitamente exótico. saltamos barreiras, invencíveis, como se a vida vivesse para nos servir. caímos, fechamo-nos no quarto e não queremos mais sair, revoltados com a mesma vida que nos traiu pelas costas. um dia somos felizes com o que temos e no outro arrasados com o que não temos. e depois... sonhamos, alto, baixo. mas somos feitos do mesmo material que faz os sonhos, e que faz as nuvens, e que deixa esta instabilidade dentro de nós. e os outros? como podemos confiar cegamente, se o mar deles pode ter piratas que os desviem da sua rota? como podemos achar que conhecemos, se o nosso amor que parecia do mais puro começa a perder a qualidade? como podemos ter a certeza da imutabilidade dos sentimentos daqueles que nos rodeiam, se nós próprios acordamos um dia cheios de dúvidas em relação a eles?
e o pior é mesmo isso, o amor. racionamos o amor toda a vida e cortamo-lo em quadradinhos de chocolate. damos um pouquinho aquele. mais um quadradinho aquele lá ao fundo. e depois coxeamos da alma, carregados de um amor que não nos aquece porque faz parte de nós. e vem a vida, e mais uma tempestade e leva-nos o amor que achávamos imutável. já vos disse que a imutabilidade é uma ilusão? a verdade é que se amamos é agora, não interessa porquê, apenas amamos. e o amor é inesgotável quando o damos, porque apenas o damos verdadeiramente quando também o recebemos. e se não o damos com medo de ficarmos sem ele, vamos acabar por ficar com ele querendo desesperadamente dá-lo. e podemos cair, cair bem fundo, mas caímos cheios de amor. e o amor vai crescendo, como nós. e mudando, porque na vida tudo muda. mas quem sou eu para falar da vida? e quem sou eu para falar de amor?

[desculpem a falta de lucidez que me dá às vezes...]

Friday, September 02, 2005




eu soube que eras tu.
soube assim que vi aquele pontinho preto bem no fundo do azul do teu olhar. era tímido, como o teu sorriso e segredava-me um abraço, bem baixinho, no silêncio das promessas que mais tarde deixámos por cumprir. e era um abraço que eu queria, naquela tarde em que eu e o inverno partilhávamos tristeza e solidão. mas tu deste um passo, e mais outro e estendeste-me a mão. era larga e comprida e falava comigo, segurando-me os medos e mostrando-me como o caminho que nos unia começava logo ali, naquelas linhas que agora vejo incertas mas que na altura me prometeram um futuro tão macio. e o inverno deixou de ser triste, e eu deixei de estar só... certa de ter encontrado um amigo para o corpo e a alma.

e eras.
e és.
mas foste.

e eu fiquei... sabendo que eras tu e que eu nunca poderia ser.

[tinha que despertar o coração para desenferrujar a mão]