Saturday, October 07, 2006




a cidade já antiga, conta histórias em cada encruzilhada. num movimento apressado fogem sonhos que outrora brincavam pela avenida e agora a abandonam perdida no meio da noite.
nas paredes lêem-se pessoas entranhadas em relações confusas. como se as relaçoes pudessem não o ser. e uma banda sonora daquelas que abana os sentimentos acorda a vontade de as conhecer a todas, de lhes mostrar que fazem diferença só porque demoramos nelas um pouco o olhar. e queremos sorrir-lhes, numa confidencia de estranhos que lhes acalma o sentir porque todos estamos sós e passamos a vida a tentar fugir a essa certeza tão dificilmente contornável. mas em vez disso olham-se em segredos, choram e riem e vemo-las ao longe, desejando com toda a força ser elas ou fingir que o somos e mudar de caminho, saber porque choram, porque riem, e rir e chorar por outros motivos que não os nossos.

e então, despidos pelo medo de seguir em frente caímos de para-quedas num corpo que é o nosso e que não tem porta de saída. assim, olhamo-nos nos olhos e mal conhecemos este olhar com que vivemos o mundo e que tão pouco fala do que aprendemos a ser e queremos contar para quem vier. e o corpo tem uma estrada a seguir que afinal ajudámos a construir e sentimos os nossos passos namorar a calçada mal iluminada enquanto pontapeiam caixas de cartão esquecidas ao relento.

e seguimos, pé ante pé para não acordar os ligeiros suspiros de lembranças de um anoitecer por entre risos e conversas familiares.

e choramos.
não por ir, mas por não poder ficar.
não por partir, mas por nos partirmos em dois bocados que não sabem viver sozinhos.