fate

Sei que me guias, destino. Quase que te consigo ver… sentado no chão da tua nuvem, rodeado pelos milhares de brinquedos pequenininhos que nascem descontroladamente porque te desleixaste uma noite e os maiores não tem juízo. Consigo sentir-te aborrecido, a brincar com as vidas que se complicam e se embaraçam de tal forma que desistes de as tentar resolver…

Às vezes chateias-te a sério e pisas um ou outro objecto. Depois ouves pragas infinitas e o choro contínuo que reclama justiça por aquela alma tão boa que teve de abandonar o mundo. Por fim, bem sei, sentes-te mal e viras-te para o outro pólo, olhas para aquela senhora vestida de azul e concretizas os seus desejos envaidecido ao ouvir um “nem acredito que isto me está a acontecer”.

Quando acordas dinâmico provocas grandes reviravoltas nas vidas das pessoas. Achas que aquele ficava melhor noutro sítio e simplesmente muda-lo sem sequer imaginares que pode não ser a sua vontade. E assim os amantes são arrancados dos braços que os seguram, e assim os filhos fogem da casa que os criou, e dessa forma fazes rodar o mundo sem saberes já onde começou…

Mas hei! Eu! Estou aqui! Tão egoísta que peço a tua atenção! Tão pequena que provavelmente nem me vês… mas ouve! Sim, demorei todo este tempo a escalar-te e estou atrás da tua orelha. Junto toda a força que me resta neste grito… ouves a minha voz? Se realmente existes leva-me daqui… ensina-me a ser outro eu.

Acorda-me de mansinho e abre a janela. Rouba um bocadinho da noite e veste-me com ela. Deixa-me no mar e afoga-me em maresia. Casa-me com um príncipe, pinta-me de alegria. Dá-me um castelo de areia para viver. Diz-me que se lutar, posso vencer. Jura-me liberdade e força para ancorar. Enche-me de vontade, ensina-me a continuar. Agora dá-me um beijo e embala-me na tua mão. Devolve-me ao mundo e canta-me uma canção.

Hum?? Não existes? Não faz mal… afinal acho que consigo fazer tudo isto sozinha.