Sunday, June 11, 2006


a vida num cubiculo. quatro paredes sem interruptor. um apalpar da textura suja pelo tempo. o conhecer o chão e ter medo de o largar por ter medo de voltar. e percorrer a vida em voltas sem ver a alavanca entre os tijolos. muita sombra.

sei ser dança, no medo de escorregar pela noite da janela. com dissabor, na luz apagada no murmurar da consciencia cega. e enredo, no esquecer de lembrar de ser, nesta turbilhão de sentir numa fogueira em cinzas tantas vezes reapagada. sei ser um mar salgado no meio do nada.

e afinal, não ha sombra sem luz. e estava outra vez a sentir do lado errado. um obstáculo novo, este de sentir com dois lados, um a puxar para o ser e o outro para o querer ser. e a intransigencia dos sentidos criou uma fronteira num mesmo país arredondado, cheio de ventriculos e auriculas que se dividem e se iludem porque afinal batem e batem-se pelo mesmo. mas esquecem-se de bater, por vezes, ou esquecem-se de me dizer porque batem. e no deserto vejo ser-me ao longe, às escuras, sem saber se gosto.

e danço, num ritmo que ainda não ouço, gestos a desculparem outros gestos que se enganaram na batida. e deixo de ser mar por não merecer ser mar, há outros mares que precisam tanto mais de ter horizonte. e eu também tenho horizonte, afinal. tenho um sentido loiro na palma da mão que me aquece o abraço e me abre os olhos. afinal não eram paredes frias, afinal não havia escuridão, era eu que estava gelada, era eu que não conseguia ver.tenho que apagar de vez a fogueira e dançar toda a noite. longe do chão. tenho que deixar de ser mar para lá poder chegar, porque está visto, dentro de mim não consigo nadar.

5 comments:

Anonymous said...

Incrível, simplesmente incrível!
Continua Joaninha, vais longe! Muito longe!
Não desperdices esse dom, que tão apurado está!
Beijinhos Princesa! *************************************

Anonymous said...

É bom poder ler algo teu de novo =) E sempre tão lindo, tão profundo...
Beijinho*

Anonymous said...

Sincronia universal corrompida num simples minuto de siLêncio. Batem em unissono qual trepidação do vento de alma, qual deambular amargamente secreto, qual gélido luar atravessado pelo abrasador sentido teu...
Parabéns, não consigo descrever a beleza do teu texto...

Beijinhos e boa sorte para os exames

Anonymous said...

Se queres ver o mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar p’ra fora sem esquecer que dentro é que é o teu lugar

E se ás duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance tens de o encontrar

Lua said...

"sabe bem voltar-te a "ver"..."