Saturday, May 21, 2005

is this love?


Posted by Hello

Eram a personificação do amor e do tempo. Viviam debaixo de promessas de paixao eterna e já há muito que os seus segredos se haviam esgotado. Ja reformados do mundo que os cansara, preparavam-se para mais um domingo em que a alegria lhes tomava conta da casa. Era sempre uma festa o chinfrim dos pequenos que corriam sem descanso fugindo das cócegas do avô e derrubando porcelanas antigas que perdiam todo o valor assim que eles revelavam os seus sorrisos marotos.
No entanto, à noitinha, quando a família saía, era um alívio. Podiam continuar o seu jogo, e era a vez dela...
Tinha sido um dia cansativo para ele e ela sabia que nao tardaria muito até adormecer no sofá. E assim foi. Assim que ouviu a respiração que ja sabia de cor levantou-se com um sorriso triunfante e dirigiu-se à cozinha. "É desta que ele vai desistir" - pensou.
Cuidadosamente, abriu o frasco do sal e largou os pequenos feijoes que tinha na mao. Uma vez que o frasco era um pouco alto, era dificil escrever a palavra, mas não desistiu voltando a sorrir sabendo ter encontrado o esconderijo ideal. O marido ha muito que deixara de cozinhar, com certeza que desta vez nao iria encontrar. Limpou os vestigios da tarde e deu um beijo na testa dele dirigindo-se para a cama. Nao era necessário chamá-lo, daí por 10 minutos ele acordaria e iria guardar os seus sonhos.
Na manhã seguinte o sol acordou-a e ela sorriu lembrando-se da noite anterior. Estava sozinha mas depressa ouviu um ruído vindo de dentro da casa. Espreguiçou-se calorosamente e aguardou o marido que entrava com um sorriso enigmático.
- Tenho uma surpresa para ti, meu amor - disse ele acendendo a luz com uma mão e com um tabuleiro na outra.
- Fiz-te o pequeno almoço - declarou.
Ela olhou-o espantada. Em 50 anos de casamento este era um acontecimento raro.
- Faço anos? - perguntou.
Ele voltou a sorrir como resposta. Dirigiu-se devagar à cama e estendeu o tabuleiro por cima das pernas já frágeis da mulher.
- Espero que esteja bom - disse. Ela voltou a examiná-lo orgulhosa. Apesar da idade, ele continuava um homem cheio de charme e ainda tinha nos olhos o brilho que a encantara. Pegou no copo de sumo de laranja que ele lhe dera e levou-o à boca devagar. Assim que os seus lábios experimentaram o sabor da fruta, os olhos arregalaram-se e ela cuspiu o líquido para fora.
- Bherkkk! - disse - sabe a sal!
- Ups - respondeu o marido numa gargalhada sonora que a desafiava - enganei-me no copo. Toma este. Ela levantou-se e abraçou-o como sempre faziam para festejar cada vitória no seu jogo secreto.
- É a tua vez! - segredou ao ouvido dela - E olha que desta vez nao vais conseguir.
Ela encontrou o seu olhar tentando perceber onde o marido escondera a palavra desta vez, mas sem sucesso.
Passaram varios dias e ela continuava a revirar a casa em busca da sua vitória. Mas nada.
- Vá lá! - pedia - Dá-me so uma pista!
Ele dava-lhe um beijo apaixonado na mão e respondia sorrindo: sabes que nao posso infringir as regras do jogo, procura no teu coração.
O domingo aproximava-se novamente e já se avizinhava a algazarra. Os miudos entraram na correria habitual e os filhos do casal sentaram-se à mesa tentando saber novidades da vida secreta dos seus heróis. Eles sorriam com a cumplicidade que sempre os descrevera e deixavam como ja era habitual a curiosidade e a admiração no ar.
De repente, ouviu-se um estrondo e a avó depressa se levantou receosa que algum dos meninos se tivesse magoado. Quando chegou perto da neta, sentiu um aperto no coração. Ela estava em pé, envergonhada, e no chão encontrava-se um quadro partido. Tinha-lhe sido oferecido pelo marido no primeiro aniversário de casamento e segurava uma fotografia dos seus tempos de namoro. Baixou-se tristemente e apanhou os pedaços da moldura que estavam desfeitos. Não demorou muito até se aperceber de uns riscos brancos em vários pedaços destruídos do caixilho. Juntou-os com êxito e ouviu a palavra nos lábios pequenos da neta:
amo-te.
Sorriu e dirigiu-se à mesa onde se encontravam todos. Baixou-se e colou a sua boca no ouvido dele: - É a tua vez... - murmurou. E abraçaram-se.

6 comments:

R. said...

nao tens noçao do quanto gostei deste texto... fogo...fabuloso :)

mas ela nunca iria partir o quadro de proposito..ele foi mauzinho.. :P

beijinho (:

Squeezy said...

Ta de facto algo forte.. é um jogo interessante...

Anonymous said...

quando editas um livro meu amor? adorei :') e ja agora...gosto do teu novo espacinho :)

mtm said...

aii..gostei muito..eu acredito num amor assim..porque nunca é tarde para sonhar =)
B*jinhos estrelinha ;)

Anonymous said...

ai joana..so descobri hj este teu novo espacinho e ja m apaixonei por ele..
o texto ta lindissimo..ja o tinha visto no teu outro blog..gosto d pensar k tb hei.d ser assim..k m vou esforçar por manter aceso um amor k durara anos..
assim cm nos vamos manter a nossa amizade :)
gosto mt d ti joaninha..(:

Anonymous said...

meu deus..............
que escritora!!
minha nossa alguém ponha esta mulher nas luzes da ribalta!
(se bem que nem era preciso tu sabes o que vales;)
beijao*****