Noite cerrada, o corpo encolhido na praia numa tentativa falhada de aquecer o frio que vem de dentro. é um daqueles momentos em que o sentimento nao é bom nem mau... ha apenas uma vontade irrecusável de fechar os olhos no infinito e sentir as historias do mar na pontinha dos pés. o pensamento esconde-se no barco vermelho que se afasta para longe e navega em circulos fechados como as voltas que a vida dá. aproximo-me do mar e deixo-o desfrutar também dos meus segredos mais íntimos, tão menos heróicos do que ele mas com tanta neblina que se sente invejoso... apodera-se de mim, procurando as respostas que nao encontro e levando consigo as perguntas que tanto me apertam. agradeço-lhe e sinto-me mais leve...

o que somos afinal, se nao uma tentativa permanente de nos encontrarmos nos outros?
o que queremos se nao uma mao forte quando ja nao sabemos fazer acrobacias?
o que procuramos para além de alguém que nos faça tremer de calor quando esta frio?
alguém que nos acenda a lareira e nos apague o fogo?

entao... de que fugimos? por que nos escondemos se nem sabemos o que queremos que nos encontre? por que desejamos uma perfeição que nunca houve?... porquê uma mão suave quando a áspera também nos segura? por que teimamos em organizar os sentimentos dentro de nós, quando a vida mistura tudo e nos deixa perdidos? por que tentamos planificar o futuro se nada nos sabe melhor que o imprevisível?

nao somos mais que filhos do tempo, numa encruzilhada de relações atadas por fios e nós que nos prendem e nos seguram, tentando a todo o custo passar por cima e por baixo até nos desatarmos e combatermos as imperfeiçoes...

pena que nao percebamos que quando estivermos soltos nao somos livres... nem somos nada.